Travessia nos Lençóis Maranhenses: Segundo Dia de Baixa Grande a Queimada dos Britos

2º Dia da Travessia dos Lençóis Maranhenses

Introdução

Travessia dos Lençóis Maranhenses é uma daquelas experiências que transformam o corpo e a alma. E se o primeiro dia já impressiona pela beleza e intensidade, o segundo dia leva tudo isso a outro nível — com mais caminhada, mais vida selvagem e uma sensação crescente de conexão com a natureza. Neste artigo, compartilho em detalhes como foi esse trecho da jornada, do oásis de Baixa Grande até a comunidade de Queimada dos Britos.

Partida de Baixa Grande: Começando Cedo

O segundo dia começou cedo — muito cedo! Acordamos pouco antes das 05:00 na casa da Dona Maria, em Baixa Grande, com o sol começando a iluminar as dunas. E, por incrível que pareça, a noite na rede foi melhor do que eu esperava! Aliás, sobre isso, abaixo coloco algumas dicas úteis caso esteja receoso sobre esse aspecto da travessia:

Dicas para Dormir na Rede

  • Posição diagonal: Deite-se em um ângulo diagonal para ficar mais reto e confortável. Isso evita a curvatura desconfortável da rede.
  • Use uma manta leve: Mesmo no calor, uma manta fina ajuda a proteger contra o vento fresco da noite. Nas comunidades eles costumam oferecer, então não precisa se preocupar em levar.
  • Travesseiro improvisado: Dobre uma peça de roupa ou use uma mochila pequena como apoio para a cabeça.
  • Relaxe e confie: No começo, pode parecer estranho, mas deixe o corpo se acostumar ao balanço suave da rede. É como ser embalado pela natureza.

Já o café da manhã – pão caseiro, ovos e café preto – estava muito bem preparado, e nos deu a energia necessária para o dia.

Foi também o momento de se despedir da Dona Maria, nossa anfitriã em Baixa Grande, e dos demais viajantes que haviam passado a noite na mesma casa. Essas conexões com outras pessoas ao longo do caminho tornam a experiência ainda mais rica, com boas conversas e trocas de histórias.

Casa da Dona Maria

A Caminhada: Areia Fofa, Lagoas Secretas e Vida Selvagem

Partimos por volta das 5h30 da manhã, quando o sol começava a nascer timidamente no horizonte. A saída cedo era essencial para evitar o calor mais forte. O caminho até Queimada dos Britos tem em média 10 km, mas a distância exata depende de fatores como o clima, o guia e a movimentação das dunas — que mudam constantemente com os ventos.

Antes da saída, nosso guia Miquéias reuniu o grupo, checou nossas garrafas d’água e nos deu um breve relato do que enfrentaríamos até Queimada dos Britos. Quanto à água, é possível comprar garrafas nas casas das comunidades, porém, não se assuste com os preços: uma garrafa de 2 litros pode chegar a custar R$ 15,00. Não tem muito o que fazer, pois não há outra opção. Além disso, leve dinheiro em espécie para facilitar, pois nas comunidades não é possível contar muito com internet.

Início da Caminhada

O Terreno: Um Desafio Dinâmico

O segundo dia foi bem mais puxado que o primeiro. O terreno mudava o tempo todo — tinha hora que a areia era durinha e dava pra andar tranquilo, mas em outros momentos parecia que cada passo afundava, como se a areia quisesse te engolir. As dunas são formadas pelo vento que vem do mar e estão sempre mudando. É por isso que o visual nos Lençóis Maranhenses nunca é igual, cada caminhada ali é única.

Subir as dunas mais altas era o maior desafio. As pernas queimavam um pouco, mas quando a gente chegava no topo… que vista! Já as descidas eram quase uma recompensa — às vezes acabavam direto em lagoas lindas, perfeitas pra dar um mergulho e se refrescar rapidinho.

Nosso guia, o Miquéias, foi essencial. Ele conhecia bem o caminho e evitava os trechos de areia muito fofa, o que fez muita diferença. Sozinho seria bem complicado, porque não tem nenhuma sinalização no caminho. Caminhar na areia cansa bem mais do que numa trilha comum, então vale a pena treinar antes, principalmente em lugares com chão mais irregular.

Ah, e por volta das 10h o sol já começa a castigar. Reaplicar protetor solar, usar chapéu com proteção pro pescoço e óculos escuros foram atitudes que me salvaram. Nos pés, recomendo usar sapatilhas ou até meias grossas — tênis não rola, eles enchem de areia. A Travessia nos Lençóis Maranhenses é uma experiência incrível, mas o terreno exige preparo e respeito.

Primeira Lagoa do Segundo Dia

Lagoas: Refresco e Vida Selvagem

Fizemos três paradas em lagoas ao longo do trajeto, todas ideais para descanso, mergulho e reidratação. A primeira delas foi, para mim, a mais bonita de toda a travessia. Não tinha nome, e talvez nem exista na próxima temporada — afinal, muitas dessas lagoas aparecem e desaparecem conforme o volume de chuva do ano. Mas naquela manhã, ela estava ali: cristalina, silenciosa e com um azul hipnotizante. Uma verdadeira joia escondida entre as dunas. Confira aqui um vídeo que mostra o que estou falando.

Encontros com a Natureza

O segundo dia também foi o mais intenso em termos de vida selvagem. Vimos um filhote da tartaruga-pininga, espécie endêmica da região e considerada vulnerável à extinção. Também cruzamos com uma pequena perereca, porcos selvagens, muitos cabritos soltos e uma variedade impressionante de aves, como urubus, gaivotas e até guarás, com suas penas avermelhadas que contrastam com o branco da areia.

Queimada dos Britos: A Casa do Lelé

Chegamos a Queimada dos Britos por volta doas 11h da manhã, após quase 6 horas de caminhada. Ele é o maior dos oásis da travessia, com várias famílias vivendo ali em casas distribuídas ao redor de uma vasta área de vegetação e areia.

A Localização Importa

A depender da casa onde você se hospeda, o seu ponto de partida para o terceiro dia pode ficar mais perto ou mais longe. Parece um detalhe pequeno, mas faz diferença: quanto mais próximo da “entrada” da comunidade, mais longa será a jornada do dia seguinte. Nós tivemos sorte — ficamos na última casa antes da saída: a famosa Casa do Lelé, o que tornou o terceiro dia um pouco mais tranquilo.

A Melhor Refeição da Travessia

Na Casa do Lelé, fomos recebidos com muito carinho. E mais do que isso: tivemos a melhor refeição de toda a travessia, preparada pela Fernanda, uma cozinheira de mão cheia. A comida era simples, mas saborosa e feita com muito cuidado. Tudo fresco e bem temperado, como deve ser. Além disso, havia refrigerantes, cervejas e outras bebidas à venda — um verdadeiro presente após horas de caminhada sob o sol.

Infraestrutura: Energia, Internet e Regras

Diferente da noite anterior, em Queimada dos Britos havia energia elétrica — mas com horários restritos: era possível carregar os equipamentos apenas entre 12h e 16h30. Por isso, o powerbank continuou sendo item essencial. A internet também estava disponível, com custo de R$5 por aparelho, o que pode ser útil caso você queira dar notícias ou compartilhar algum registro do dia.

Tarde de Descanso e Calor Intenso

A tarde foi de muito descanso! O corpo precisava. Aliás, esse foi o dia em que me senti mais cansada de toda a travessia. O calor dentro da comunidade às vezes chega a sermais intenso que nas dunas, pois o vento praticamente não circula entre a vegetação.

Por outro lado, como chegamos cedo, tivemos bastante tempo para relaxar, cochilar na rede, tomar banho de lagoa e curtir o ritmo lento da comunidade. O silêncio e a simplicidade ali têm um poder restaurador difícil de explicar.

Redário na Casa do Lelé

O Pôr do Sol: Mais Um Espetáculo

No final da tarde, nos reunimos para subir em uma duna próxima e ver o pôr do sol, e vários grupos que ficaram em outras casas fizeram o mesmo. A cena é sempre diferente, mesmo que o cenário pareça o mesmo: o sol se esconde atrás do infinito de areia, e o céu muda de cor num espetáculo que começa em tons de dourado e termina num roxo profundo. Mais um pôr do sol incrível pra conta!

Quando o espetáculo terminou, voltamos para a Casa do Lelé, jantamos e fomos dormir cedo. O cansaço acumulado do corpo pedia descanso — e o dia seguinte prometia ser o mais longo de todos.

Dicas Práticas para o Segundo Dia

Aqui vão algumas dicas baseadas no que vivi:

  • Hidratação: Leve 2 litros de água por pessoa no mínimo
  • Protetor solar: Reaplique a cada 2-3 horas e use chapéu com proteção para o pescoço.
  • Calçados: Sapatilhas ou meias são a melhor escolha. Tênis pesam e causam bolhas.
  • Powerbank: Essencial em todas as comunidades, onde não há energia garantida.
  • Dinheiro em espécie: Leve notas para bebidas extras e internet, já que cartões não funcionam.

Um Dia de Esforço e Recompensa

O segundo dia da travessia dos Lençóis Maranhenses é, ao mesmo tempo, o mais contemplativo e o mais desafiador. A beleza das lagoas, os encontros com animais selvagens, o acolhimento das famílias locais e o esforço físico da caminhada criam um equilíbrio perfeito entre natureza e superação pessoal.

Se no primeiro dia você está deslumbrado com a novidade, no segundo você começa a se integrar de verdade à paisagem. Entende melhor o ritmo da caminhada, respeita mais o próprio corpo e se entrega à simplicidade dos oásis. E talvez esse seja o maior presente dessa travessia: te lembrar que o essencial pode ser leve, silencioso — e profundamente transformador.

Sobre o Autor

Camila Ruiz
Camila Ruiz

Apaixonada por trilhas, mergulho e tudo que envolve o contato com a natureza, compartilho experiências reais de viagens que vão além do comum. Se você também acredita que viajar é uma forma de reconexão com a vida e busca experiências que inspiram, convido você a fazer parte dessa jornada.

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