Diferenças entre Mergulho com Cilindro em Água Doce e Água Salgada

Neste artigo, vamos explorar as principais diferenças entre mergulho com cilindro em água doce e água salgada, tanto do ponto de vista técnico quanto da experiência do mergulhador.
Se você já mergulhou com cilindro no mar e depois foi para um rio, lago ou caverna de água doce, provavelmente notou que a experiência muda — e muito. Embora a base da atividade seja a mesma (respirar com equipamento autônomo embaixo d’água), as condições, o equipamento e o corpo reagem de forma diferente dependendo do ambiente.
Ao final, você ainda encontra uma seleção dos melhores locais para mergulhar no Brasil em cada tipo de ambiente.
1. Flutuabilidade: o fator que muda tudo
Uma das principais diferenças entre água doce e água salgada está na flutuabilidade. A água do mar contém sal — e isso a torna mais densa. Em outras palavras: o corpo “boia” mais facilmente na água salgada.
➡️ O que isso muda?
No mar, você precisa usar mais lastro (pesos) para afundar, enquanto em água doce, menos peso é suficiente. Se você usar a mesma quantidade de lastro que usa na praia para mergulhar num rio, por exemplo, vai afundar mais rápido do que gostaria.
➡️ Dica prática:
Sempre revise seu lastro ao mudar de ambiente. Uma diferença de 2 a 4 kg pode ser significativa — e alterar toda a sua experiência de mergulho. Se por acaso estiver na dúvida, pergunte ao instrutor ou Dive Master o que ele sugere para o seu caso.
2. Visibilidade: o fator da surpresa
Quando se fala em visibilidade, muita gente assume que o mar tem vantagem. E sim, em muitos lugares litorâneos a água é cristalina — especialmente em destinos tropicais como Fernando de Noronha.
No entanto, em alguns locais de água doce, a visibilidade pode ser igualmente ou até mais impressionante, especialmente quando há rochas calcárias e pouca atividade humana nas proximidades. Bonito (MS) é um bom exemplo, com rios filtrados naturalmente. Aliás, falando nisso preparamos um artigo super especial sobre o mergulho no Abismo Anhumas nessa região. Para conferir, é só clicar aqui.
Por outro lado, chuvas recentes podem prejudicar a visibilidade em rios e lagos. A lama e os sedimentos escoados da terra entram na água doce com facilidade, tornando o ambiente mais turvo. Esse fenômeno é comum em períodos de cheia, e pode ser decisivo na hora de escolher a melhor época para mergulhar nesses locais.
3. Temperatura da água: cuidado com o frio
Águas doces como as de rios, cavernas e lagos tendem a ser mais frias do que as águas costeiras tropicais. E isso não depende apenas do clima da região, mas também da profundidade e da ausência de correntes quentes.
➡️ O que isso muda?
Você pode precisar de uma roupa de neoprene mais espessa em água doce — mesmo em regiões quentes do Brasil. Em cavernas, por exemplo, a água costuma ficar em torno de 17 °C ou até menos. Já no mar de Noronha, pode passar dos 28 °C.
4. Correntes e marés: tranquilidade nas águas doces
Outra diferença significativa entre os dois ambientes está nas condições de navegação. No mar, lidamos com marés, correntes de retorno e ondas — fatores que influenciam não só o mergulho, mas também a entrada e a saída da água.
Já em rios e lagos, o ambiente tende a ser mais estável, com águas mais calmas (a menos que você esteja mergulhando em corredeiras).
➡️ O que isso muda?
Para quem está começando, ou para quem quer relaxar mais durante o mergulho, os ambientes de água doce podem ser menos desafiadores fisicamente.
5. Vida marinha: de onde vêm as cores?
Ambientes marinhos são famosos por sua diversidade de vida, com peixes coloridos, corais, tartarugas e até tubarões. Já a água doce abriga outra biodiversidade — muitas vezes menos colorida, mas igualmente fascinante.
➡️ Em água salgada, espere encontrar cardumes vibrantes, recifes, polvos, moréias, golfinhos e mais.
➡️ Em água doce, a fauna inclui peixes como dourados, pacus, pintados, traíras e algumas espécies únicas de crustáceos e plantas submersas.
Cada bioma tem sua beleza própria, e mergulhar nos dois mundos amplia a visão do mergulhador sobre os ecossistemas do planeta.
6. Tipos de mergulho: caverna, naufrágio, recife…
A natureza do mergulho também muda dependendo do ambiente. No mar, os mergulhos em naufrágios, recifes de coral ou paredões são mais comuns. Já em água doce, cavernas, fendas geológicas, nascentes e rios de corrente leve são os destaques.
➡️ Água salgada: ideal para fotografia colorida, mergulho com vida marinha abundante, experiências em barcos.
➡️ Água doce: excelente para mergulho técnico, cavernas e tranquilidade.
7. Conservação do equipamento
Você sabia que o sal do mar acelera a corrosão do equipamento? Esse é um dos principais pontos de destaque quando falamos das diferenças entre mergulho com cilindro em água doce e água salgada. Máscaras, reguladores, roupas, facas — tudo sofre mais em água salgada. Já a água doce é bem mais gentil com o material.
➡️ Dica prática:
Se você mergulha com frequência no mar, redobre os cuidados com a higienização e dessalinização dos seus equipamentos.
8. Logística e acessibilidade
Nem sempre os melhores pontos de mergulho estão à beira-mar. Muitas das experiências mais únicas em água doce exigem deslocamento terrestre e, às vezes, logística mais elaborada. É normal também uma escassez maior de operadoras, com apenas uma operada ativa em cada região.
Por outro lado, o litoral brasileiro é extenso e bem estruturado para o mergulho recreativo, com operadoras em quase todos os estados costeiros.
Onde mergulhar com cilindro no Brasil
🌊 Principais destinos de mergulho em água salgada (mar):
- Fernando de Noronha (PE): visibilidade de até 50m, vida marinha vibrante, tubarões-lixa, naufrágios. Temos até um guia especial sobre esse destino.
- Recife (PE): capital brasileira dos naufrágios, com dezenas de embarcações afundadas. Um dos meus lugares preferidos para mergulho no mundo! Confira mais informações aqui.
- Arraial do Cabo (RJ): vida marinha diversa e ótima estrutura para mergulhadores iniciantes.
- Ilhabela (SP): mergulhos em naufrágios como o Velasquez e condições técnicas para mergulhadores avançados.
- Abrolhos (BA): recifes de coral únicos no Atlântico Sul e avistamentos de baleias-jubarte em certas épocas do ano.
🏞️ Principais destinos de mergulho em água doce (rios, cavernas e lagos):
- Bonito (MS): rios de águas cristalinas e cavernas profundas como o Abismo Anhumas.
- Mariana (MG): mergulho em mina desativada, com galerias submersas e água gelada — experiência única.
- Rifaina (SP): lago artificial com paredões e visibilidade surpreendente em dias secos. Estive lá em setembro de 2023, e valeu muito a pena! Para conhecer um pouco como é, confira esse vídeo aqui.
- Furnas (MG): paredões, estruturas submersas e belas formações rochosas no “mar de Minas”.
- Lago Paranoá (DF): fácil acesso e ponto popular entre mergulhadores locais, ideal para treino e prática.
Conclusão
Mergulhar com cilindro em água doce ou salgada oferece experiências totalmente distintas, mas igualmente fascinantes. Cada ambiente tem seus desafios, suas belezas e suas recompensas.
Logo, se você está começando, experimente os dois. Por outro lado, se você já mergulha há mais tempo, explore as nuances — mergulhar numa caverna cristalina de água doce pode ser tão transformador quanto encontrar um naufrágio no fundo do mar.
E, acima de tudo, respeite os ritmos de cada lugar. O mergulho nos ensina a escutar, observar e flutuar com presença — seja no rio calmo ou no mar revolto. Independentemente das diferenças entre mergulho com cilindro em água doce e água salgada, certamente vale mergulhar em ambos os tipos de lugar e descobrir o que mais faz sentido para você.
Por fim, para conferir mais detalhes sobre dicas de viagens e mergulhos, confira o nosso canal do Youtube.
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