Gigante dos Oceanos: Curiosidades sobre o Tubarão-Peregrino
No imenso e misterioso mundo dos oceanos, poucas criaturas despertam tanta curiosidade quanto os tubarões. E entre todos eles, o tubarão-peregrino (Cetorhinus maximus) se destaca — não por ser assustador, mas justamente pelo contrário. Ele é o segundo maior peixe do planeta (só perde para o tubarão-baleia), e apesar do tamanho impressionante, é um verdadeiro gigante gentil: vive nadando com a boca aberta, filtrando plâncton, pequenos peixes e outros organismos microscópicos.
Neste artigo, vamos mergulhar de cabeça na vida desse colosso tranquilo — entender como ele se alimenta, como se comporta, onde vive, e por que é tão importante para o equilíbrio dos oceanos. Também vamos falar sobre os mistérios que ainda cercam sua reprodução e os desafios que enfrenta num planeta em rápida transformação. No fim das contas, o tubarão-peregrino é um lembrete poderoso de que nem todo tubarão é um predador feroz — e que até os gigantes do mar têm seu lado delicado.
Características Gerais do Tubarão-Peregrino

Tamanho e Aparência
O tubarão-peregrino é uma das criaturas mais impressionantes do planeta — e um verdadeiro colosso dos mares. Ele é o segundo maior peixe do mundo, perdendo apenas para o tubarão-baleia. Além disso, pode atingir até 10 metros de comprimento — e, em raríssimos casos, há registros históricos que falam em 12 metros — e pesar várias toneladas. Porém, ao contrário do que muita gente imagina, é totalmente inofensivo. Esse gigante nada com a boca escancarada, filtrando plâncton, pequenos peixes e organismos microscópicos — um banquete invisível que o mantém vivo.
Seu corpo é alongado e robusto, perfeito para deslizar pelas águas abertas. A coloração varia entre tons de cinza e marrom-escuro, com o ventre mais claro — uma camuflagem natural chamada contra-sombreamento, que o ajuda a se misturar ao ambiente marinho. A pele é áspera, coberta por microscópicos dentículos dérmicos, que reduzem o atrito com a água e aumentam sua eficiência ao nadar. E o destaque? Sua boca gigante, que pode se abrir até quase um metro de largura e revelar as brânquias filtradoras — verdadeiras “redes biológicas” projetadas pela natureza.
Um Peixe com Muitos Nomes
Esse gigante tranquilo é conhecido por diferentes nomes ao redor do mundo. Em português, pode ser chamado de tubarão-peregrino, tubarão-frade, peixe-frade ou até padre — apelidos inspirados na aparência das dobras das brânquias, que lembram o capuz dos antigos monges. Em Cabo Verde, recebe nomes como albafar e relengueiro, referência à sua forma lenta e serena de nadar.
O nome científico, Cetorhinus maximus, também diz muito sobre ele. Vem do grego ketos (monstro marinho) e rhinos(nariz), mais o latim maximus (maior) — algo como “o maior monstro marinho de nariz grande”. E apesar do nome intimidador, o tubarão-peregrino é tudo, menos um monstro. É um lembrete vivo de como a natureza pode unir força e delicadeza no mesmo ser.
Um Sobrevivente da História
O tubarão-peregrino é o único representante vivo de sua família, os Cetorhinidae, um grupo de tubarões filtradores que existe há milhões de anos. Parente distante do tubarão-branco e do tubarão-mako, ele faz parte da ordem dos Lamniformes. Fósseis indicam que seus ancestrais já nadavam nos mares desde o Período Cretáceo, há cerca de 90 milhões de anos — o que faz dele praticamente um fóssil vivo.
Essa linhagem antiga é prova de que suas adaptações funcionam perfeitamente. Sua boca filtradora, corpo hidrodinâmico e modo de vida pacífico são resultados de uma evolução extremamente eficiente. Estudar o tubarão-peregrino é, portanto, entender um pedaço da história dos oceanos. Ele é mais do que um gigante calmo: é um símbolo da harmonia natural e da incrível resiliência da vida marinha.
O Estilo de Vida de um Gigante Filtrador

Alimentação: um Banquete Invisível
O tubarão-peregrino é o retrato da calma e da eficiência no oceano. Ele é um dos três únicos tubarões do mundo que se alimentam por filtração, junto com o tubarão-baleia e o tubarão-boca-grande. Sua dieta é composta basicamente por zooplâncton — minúsculos crustáceos, larvas de peixe e outros organismos microscópicos. Em vez de caçar presas, ele nada devagar com a boca escancarada, filtrando milhares de litros de água por hora em busca de alimento. É uma estratégia simples, mas genial: o chamado ram feeding, ou alimentação por arrasto, que lhe permite se sustentar apenas nadando.
Dentro dessa boca imensa, há um sistema de filtragem incrível. As fendas branquiais do tubarão-peregrino se estendem quase ao redor da cabeça, equipadas com estruturas chamadas rastros branquiais — como se fossem cerdas que funcionam como uma peneira biológica. Conforme ele nada, a água entra carregada de plâncton, passa por essas “peneiras” e sai limpa pelas brânquias. O resultado? Um gigante que pode filtrar até milhares toneladas de água por hora! E seus dentes? São minúsculos (cerca de 1.500), e praticamente inúteis na alimentação — servem apenas em interações sociais ou reprodutivas. Tudo nele é feito para um único propósito: viver em harmonia com o oceano, sem caçar ninguém.
Migração: Nômade dos Mares
O tubarão-peregrino é um viajante incansável. Ele percorre os oceanos em longas migrações sazonais, sempre seguindo o caminho do plâncton — seu principal alimento. Durante o verão, é comum vê-lo perto da costa, deslizando lentamente logo abaixo da superfície. Já no inverno, quando o plâncton escasseia, ele parte para águas mais profundas e quentes — algumas medições mostraram mergulhos acima de 900 m de profundidade, e há registros até de quase 1.500 m. Por muito tempo se acreditou que esses tubarões “hibernavam” no fundo do mar, mas estudos recentes com rastreamento por satélite revelaram que eles, na verdade, cruzam milhares de quilômetros em suas jornadas — alguns mergulhando a mais de 1.000 metros de profundidade!
Eles são encontrados em praticamente todos os oceanos, especialmente no Atlântico Norte, Pacífico Norte, Mediterrâneo e nas costas da Austrália e Nova Zelândia — regiões ricas em plâncton. Essas viagens não são aleatórias: além de buscar alimento, os cientistas acreditam que os tubarões-peregrinos migram também para acasalar ou encontrar condições ambientais ideais. Suas rotas globais mostram o quanto os oceanos estão conectados — e o quanto proteger essas rotas é essencial para a sobrevivência da espécie.
Comportamento: o Gigante Pacífico
Apesar do tamanho e da aparência impressionante, o tubarão-peregrino é um dos seres mais pacíficos do mar. Costuma nadar sozinho, mas às vezes se junta a grupos de até 100 indivíduos, especialmente em áreas ricas em plâncton. Essas “reuniões” são temporárias e pacíficas — verdadeiros banquetes coletivos sob as ondas.
Um dos comportamentos mais curiosos desse animal é o breaching, ou salto fora d’água. Sim, ele é capaz de impulsionar seu corpo de várias toneladas para fora da superfície, às vezes repetindo o salto várias vezes seguidas! Os cientistas ainda não têm certeza do motivo, mas acreditam que ele faz isso para se livrar de parasitas ou se comunicar com outros tubarões, talvez até durante o acasalamento.
E por falar em reprodução, esse é outro mistério. O acasalamento nunca foi documentado em detalhe, mas cicatrizes nas fêmeas indicam que os machos usam seus pequenos dentes para se segurar. Apesar de ser uma espécie solitária, o tubarão-peregrino tem momentos de socialização e exibição que continuam fascinando pesquisadores.
Reprodução: um Mistério das Profundezas

A reprodução do tubarão-peregrino ainda é um dos maiores enigmas da biologia marinha. Mesmo com décadas de pesquisa, os cientistas nunca observaram diretamente o acasalamento dessa espécie — tudo o que sabemos vem de indícios e raros registros. Sabe-se que machos e fêmeas se reúnem durante o verão, e que os machos provavelmente usam seus pequenos dentes para se segurar nas fêmeas durante o acasalamento, o que explica as cicatrizes observadas em alguns indivíduos. A espécie é ovovivípara, ou seja, os filhotes se desenvolvem dentro de ovos que eclodem dentro do corpo da mãe, nascendo vivos e já com cerca de 1,5 a 2 metros de comprimento.
Outro fato impressionante é seu longo período de gestação — possivelmente de 2 a 3 anos de acordo com estudos, um dos mais extensos do reino animal. Como os machos só atingem a maturidade sexual entre 12 e 16 anos, e as fêmeas apenas por volta dos 20, a reprodução é lenta e pouco frequente, o que torna a espécie altamente vulnerável a impactos ambientais e à pesca. Há apenas um registro confirmado de uma fêmea grávida, encontrado na Noruega em 1943, que deu à luz cinco filhotes vivos e um natimorto. Esse evento raro mostra o quanto ainda temos a aprender sobre esse processo.
Cada nova descoberta sobre a reprodução do tubarão-peregrino ajuda a preencher as lacunas desse quebra-cabeça biológico e reforça a importância de protegermos esses gigantes gentis. Afinal, entender como eles nascem e crescem é essencial para garantir que continuem cruzando os oceanos por muitas gerações.
Desafios e Esforços de Conservação
Durante o século XX, o tubarão-peregrino foi caçado intensamente por seu óleo de fígado, carne e barbatanas — usados na sopa de barbatana e na indústria de cosméticos. Estima-se que dezenas de milhares tenham sido mortos, especialmente no Atlântico Norte.
Hoje, proibiu-se a pesca em muitos países, mas ainda há captura acidental (bycatch) e colisões com barcos. A poluição por plásticos também é uma ameaça crescente, já que esses tubarões podem ingerir microplásticos junto com o plâncton.
E o maior risco futuro vem das mudanças climáticas, que podem alterar a temperatura da água e a distribuição do plâncton, sua principal fonte de alimento.
Atualmente, a espécie é classificada como “Em Perigo” pela IUCN (2024) (confiabilidade: alta).
Medidas importantes incluem a criação de Áreas Marinhas Protegidas, como o Mar das Hébridas, na Escócia, designado em 2020 para proteger populações locais. Projetos de rastreamento por satélite e campanhas de conscientização pública também ajudam a compreender e proteger esse gigante dos mares.

Por Que o Tubarão-Peregrino Importa
Por fim podemos dizer que essa é uma das criaturas mais fascinantes do oceano — um animal incrível que sobrevive filtrando plâncton e cruzando mares inteiros em busca de alimento. Além disso, ele é muito mais do que um gigante curioso dos mares — ele é um indicador da saúde dos oceanos. Quando essa espécie está em risco, é sinal de que o equilíbrio marinho também está ameaçado. Proteger o tubarão-peregrino significa preservar o plâncton, a base da vida marinha, e garantir que nossos oceanos continuem funcionando como o coração do planeta.
Ou seja, cada mergulho científico, cada área protegida e cada gesto de conscientização contam. Afinal, entender e proteger o tubarão-peregrino é também uma forma de cuidar do futuro de todos nós. Que ele continue nadando livre, inspirando respeito, admiração e consciência sobre o nosso papel na preservação do planeta azul.
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