Travessia nos Lençóis Maranhenses: Primeiro Dia de Atins a Baixa Grande

Introdução
A travessia nos Lençóis Maranhenses é uma das experiências mais marcantes que você pode ter no Brasil. Caminhando por dunas de areia branca e lagoas cristalinas, você se depara com paisagens que parecem de outro planeta. Porém, mais do que beleza, essa aventura exige preparo físico e logístico. Neste artigo, vou compartilhar como foi meu primeiro dia da travessia nos Lençóis Maranhenses, saindo de Atins até chegar ao oásis de Baixa Grande, com todas as informações práticas que você precisa saber.
Diferente de muitos roteiros que começam logo cedo, optei por uma estratégia diferente: pernoitar em Atins antes de iniciar a caminhada. Essa decisão se mostrou acertada por várias razões que vou explicar ao longo do texto. Além disso, vou detalhar os desafios do terreno, os equipamentos essenciais, as condições de hospedagem e tudo o que aprendi nesse primeiro dia de uma jornada inesquecível.
Planejamento e Logística: Por que Começar de Atins
Minha travessia nos Lençóis Maranhenses começou de forma estratégica. Em vez de seguir o roteiro tradicional que começa logo pela manhã em Barreirinhas e já inicia a caminhada ao chegar em Atins, decidi passar a noite no vilarejo. Essa pequena vila de pescadores, com suas ruas de areia e construções simples, serve como porta de entrada para o parque nacional. A decisão de pernoitar ali trouxe várias vantagens práticas que recomendo para outros viajantes.
Primeiro, esse roteiro permite um início mais tranquilo da jornada, sem a correria de chegar e já partir para a caminhada. Segundo, e mais importante, possibilita conhecer um dos locais mais únicos que já visitei no Brasil: Atins certamente vale mais do que apenas um passagem de poucas horas! Aliás, tenho até um artigo que fala especificamente sobre o que fazer em Atins, e você pode conferir aqui.
Vale notar também que nem todas as agências de turismo permitem isso, então é bom planejar com cuidado. Eu fechei o passeio com o Chacal (98 96169602), e recomendo fortemente! Foi extremamente atencioso e flexível com as minhas demandas.
No dia do passeio, por volta das 14h30, o guia Miquéias nos buscou com uma jardineira – um veículo 4×4 adaptado para o terreno arenoso. O Miqueias, aliás, foi mega atencioso! Ele fornece também passeio de forma privativa, e se você quiser pode entrar em contato diretamente com ele (98 84311161) ao invés de buscar agências.
Depois que embarcamos seguimos com o motorista pelas ruas de Atins até a entrada do parque. E o trajeto até o ponto de partida da caminhada já é uma atração: passando pelo interior da vila, e depois com vista para o mar de um lado e as primeiras dunas do outro. Foi incrível, e só esse passeio já dá uma ideia do que está por vir. Até que, em uma hora, chegamos a um ponto remoto onde a jardineira parou. Ali, sem trilhas, sem sinal, iniciou-se oficialmente a travessia nos Lençóis Maranhenses — e a partir disso, só seguiríamos a pé com o guia.

Equipamentos Essenciais e Preparação
Antes de detalhar a caminhada em si, é fundamental falar sobre equipamentos. Para a travessia nos Lençóis Maranhenses, alguns itens são absolutamente obrigatórios:
Lista de Equipamentos Indispensáveis:
- Lanterna de cabeça: Item número 1 da lista. Sem ela, é impossível caminhar à noite. Comprei essa daqui e adorei, excelente custo-benefício!
- Powerbank: A falta de energia elétrica nos oásis torna este item essencial. Eles até possuem tomadas, mas é bem comum problema nos geradores ou racionamento de energia. Então, melhor não contar com isso – principalmente se você for do tipo que tira muita foto.
- Protetor solar: O reflexo da areia intensifica a radiação solar.
- Chapéu ou boné: Proteção adicional para cabeça e rosto. Recomendo aqueles com protetor de orelha, tipo esse daqui. O sol lá é extremamente forte, não subestime!
- Óculos de sol: Indispensável devido ao reflexo intenso da areia.
- Garrafa d’água: Hidratação constante é crucial. Eu levei uma plástica mesmo de 1,5L e depois fui comprando mais nas comunidades.
- Calçado adequado: sapatilha para caminhar na praia ou meias – não é recomendado fazer com tênis ou botas devido ao tipo de terreno e quantidade de areia.
A preparação física também é importante. Embora os 9 km do primeiro dia não sejam uma distância extrema, caminhar na areia fofa exige mais esforço que o normal. Recomendo pelo menos algumas semanas de caminhadas regulares antes da viagem.
O Terreno: Desafios Reais da Caminhada
O primeiro dia da travessia nos Lençóis Maranhenses percorre aproximadamente 9 km até Baixa Grande. Entretanto, é importante entender que essas distâncias são aproximadas e podem variar. As dunas estão em constante movimento devido aos ventos alísios que sopram do Atlântico, transportando areia e remodelando a paisagem continuamente.
Antes de tudo, vale notar que terreno varia significativamente ao longo do percurso. Em alguns trechos, a areia é mais compacta, permitindo uma caminhada em ritmo normal. Porém, em outros momentos, você enfrenta areia extremamente fofa, onde cada passo exige esforço dobrado. É como caminhar em uma esteira de academia em velocidade alta – cansativo, mas não impossível.
As lagoas ao longo do caminho não são apenas lindas. São funcionais! Servem como pontos de descanso e refresco essenciais. A água é limpa e refrescante, formada pelo acúmulo da chuva entre as dunas. A quantidade de paradas para banho pode variar de acordo com o ritmo e o guia, portanto, alinhe bem esse ponto com ele antes. Aproveite também esses momentos para hidratar-se e recuperar energia para o próximo trecho.

Vida Selvagem: Encontros Inesperados
Apesar da aparência desértica, os Lençóis Maranhenses abrigam uma biodiversidade surpreendente. Durante a travessia, é comum avistar aves como guarás, garças, maçaricos e até falcões sobrevoando as lagoas e restingas. Nos espelhos d’água formados entre as dunas, vivem pequenos peixes como o trairão e o piaba, além do curioso camarão-vermelho, que surge durante a estação das chuvas. Ou seja, não se engane achando que é apenas um deserto!
Durante nossa caminhada, tivemos a sorte de encontrar uma tartaruga-pininga (Trachemys adiutrix), espécie endêmica da região. Esse encontro, embora emocionante, serve como lembrete de que estamos em um ecossistema único e frágil. As tartarugas-pininga são mais ativas durante o período chuvoso e se escondem na seca para conservar energia.
Se você tiver a sorte de avistar uma, mantenha distância respeitosa e não tente tocá-la. A observação da vida selvagem é um bônus da travessia, mas sempre com responsabilidade ambiental.

Pôr do Sol: Timing e Localização
Um dos momentos mais esperados do primeiro dia é o pôr do sol visto do alto de uma duna. O timing é crucial: você precisa calcular bem para chegar ao ponto ideal antes que o sol se ponha. Nosso guia nos levou a uma duna mais alta, que oferecia vista panorâmica das dunas circundantes.
O espetáculo realmente vale a pena! Certamente, foi um dos pores do sol mais intensos que já presenciei. As cores variam do laranja intenso ao roxo, criando um contraste impressionante com a areia branca. É um momento fotográfico por excelência, então certifique-se de que sua câmera ou celular esteja com bateria suficiente.

Caminhada Noturna: Desafios e Precauções
Após o pôr do sol, seguimos caminhando sob o crepúsculo. Portanto, aqui a lanterna de cabeça se torna absolutamente essencial. Lembre-se de levá-la com a bareria carregada! A escuridão completa das dunas, sem qualquer poluição luminosa, é impressionante, mas também exige atenção redobrada.
Caminhar na areia no escuro adiciona uma camada extra de dificuldade. É importante manter-se próximo ao grupo e seguir as orientações do guia. O som da areia sob os pés e a luz das lanternas criam uma atmosfera única, mas a segurança deve ser sempre prioridade.
Baixa Grande: Estrutura e Acomodações
Finalmente, depois da primeira vivência com a caminhada, chegamos em Baixa Grande por volta das 19h. Este ponto de apoio é uma pequena comunidade formada por algumas famílias que vivem de forma simples e sustentável. A infraestrutura é básica, mas funcional para as necessidades gerais.
Estrutura disponível em Baixa Grande
- Hospedagem: Casas de família com redes para dormir.
- Alimentação: Refeições caseiras com ingredientes locais, mas bem saborosas.
- Banheiros: Instalações básicas, porém, limpas.
- Energia: Dependente de geradores, funcionamento limitado.
Em Baixa Grande ficamos hospedados na casa da Dona Maria, uma experiência autêntica e super acolhedora!
Alimentação nas Comunidades
O jantar em Baixa Grande oferece opções simples, mas saborosas. Geralmente há escolha entre frango, omelete e peixe. Optamos pela anchova grelhada, que estava excelente! E bem melhor que a comida servida em alguns restaurantes. A comida é preparada com ingredientes frescos e temperos locais, proporcionando uma experiência incrível com sabor de “comida de mãe”.

É importante mencionar que as opções são limitadas, então se você tem restrições alimentares específicas, é recomendável comunicar com antecedência ou levar alguns suplementos.
Infraestrutura Energética
A questão energética em Baixa Grande merece atenção especial. A comunidade depende de geradores para energia elétrica, com funcionamento intermitente. Projetos de energia solar estão sendo implementados na região para melhorar essa situação, mas ainda não são universais. Logo, lembre-se da importância do PowerBank, pois a energia não é garantida.
Sendo assim, abaixo estão algumas implicações práticas para você ter em mente:
- Carregamento de dispositivos: Limitado aos horários de funcionamento do gerador.
- Iluminação: Limitada a certos pontos das comunidades. De forma geral, é feita principalmente lanternas após determinado horário.
- Refrigeração: Limitada, afetando conservação de alimentos e bebidas.
- Internet: Disponível, todavia, também limitada. Na casa da Dona Maria o custo é de R$ 15,00 por aparelho, e pode oscilar bastante.
Acomodações: Dormindo em Redes

As acomodações em Baixa Grande são em redes, não camas convencionais. Para quem não está acostumado, pode ser um desafio inicial, mas as redes podem sim ser confortáveis! Eu e meu marido sofremos um pouco, mas seguem abaixo algumas dicas para uma boa noite de sono:
- Deite-se diagonalmente na rede, não reto.
- Use um travesseiro pequeno ou improvise com roupas.
- Leve um repelente, pois pode haver mosquitos.
- Eles fornecem uma mantinha leve, mas não muito quente. Logo, leve agasalho caso costume sentir frio à noite, pois o vento pode ser gelado e o espaço é aberto.
Aspectos Sociais e Culturais
A noite em Baixa Grande oferece oportunidade de interação com outros viajantes e moradores locais. É comum se reunir em torno de uma fogueira para conversar e trocar experiências. Esse aspecto social enriquece a experiência, permitindo conhecer pessoas de diferentes lugares e trajetórias! Para mim, esse foi um dos principais pontos de toda a viagem.
Os moradores locais são receptivos e dispostos a compartilhar histórias sobre a vida na região. Sendo assim, é uma oportunidade valiosa de aprender sobre a cultura local e os desafios de viver em um ambiente tão único.
Observação Astronômica
Um dos benefícios inesperados da falta de poluição luminosa é a qualidade excepcional do céu noturno. É simplesmente incrível! A observação das estrelas em Baixa Grande é impressionante e, se você tiver sorte, é possível até mesmo visualizar constelações e a Via Láctea, raramente vista em áreas urbanas.
Se você tem interesse em astronomia, vale a pena levar um aplicativo de identificação de constelações no celular (baixado previamente, já que o sinal de internet é inexistente).
Conclusão: Lições do Primeiro Dia
O primeiro dia da travessia nos Lençóis Maranhenses é uma introdução intensa ao que esperar nos dias seguintes. As principais lições aprendidas foram:
- Preparação é fundamental: Equipamentos adequados fazem toda a diferença.
- Flexibilidade é necessária: O terreno e as condições podem variar.
- Respeito ao ambiente: Estamos visitando um ecossistema único e frágil.
- Valorização da simplicidade: A vida nos oásis ensina sobre o essencial.

Além disso, a jornada de Atins até Baixa Grande, foi um mix de descoberta, emoção e conexão. Vivenciei dunas suaves e firmes, lagoas translúcidas, luz dourada do pôr do sol e o encontro mágico com a tartaruga — tudo isso antes mesmo de chegar ao oásis quentinho de Baixa Grande.
Dormir sob redes, com fogueira e estrelas, foi mais do que descanso físico: foi recarga emocional. Certamente, essa introdução me mostrou por que a travessia é tão valorizada — não só pelos desafios ou pela paisagem, mas pela simplicidade verdadeira de viver com o básico e celebrar cada instante.
Nesse post aqui, conto como foi o segundo dia — e a jornada continua cheia de lagoas, mais dunas e aquele sentimento grandioso que somente as paisagens do Maranhão proporcionam.
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